Friday, September 01, 2006

Caso do Dia - LUPUS

LUPUS

O Lupus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença crônica de causa desconhecida, onde acontecem alterações fundamentais no sistema imunológico da pessoa, atingindo predominantemente mulheres. O sistema imunológico é uma rede complexa de órgãos, tecidos, células e substâncias encontradas na circulação sanguínea, que agem em conjunto para nos proteger de agentes estranhos. Uma pessoa que tem LES, desenvolve anticorpos que reagem contra as suas células normais, podendo consequentemente afetar a pele, as articulações, rins e outros órgãos. Ou seja, a pessoa se torna "alérgica" a ela mesma, o que caracteriza o LES como uma doença auto-imune.

Mas não é uma doença contagiosa, infecciosa ou maligna. A maioria dos casos de LES ocorre esporadicamente, indicando que fatores genéticos e ambientais tem um papel importante na doença.O Lupus varia enormemente de um paciente para outro, de casos simples que exigem intervenções médicas mínimas, à casos significativos com danos à órgãos vitais como pulmão, coração, rim e cérebro.

A doença é caracterizada por períodos de atividade intercaladas por períodos de remissão que podem durar semanas, meses ou anos. Alguns pacientes nunca desenvolvem complicações severas.

Histórico

Em 1851, o médico francês Pierre Lazenave observou pessoas que apresentavam "feridinhas" na pele, como pequenas mordidas de lobo. E em 1895, o médico canadense Sir William Osler caracterizou melhor o envolvimento das várias partes do corpo e adicionou a palavra "sistêmico" à descrição da doença.Lupus=lobo eritematoso=vermelhidão sistêmico=todo

Definição

O "American College of Rheumatology", uma associação americana que reune profissionais reumatologistas, estabeleceu em 1971 e revisou em 1982, 11 critérios que definem o quadro de Lupus. Estes critérios foram modificados em 1997. Uma pessoa pode ter LES se 4 critérios estiverem presentes:

Critérios de pele:
1 - mancha "asa borboleta" (vermelhidão característica no nariz e face)
2 - lesões na pele (usualmente em áreas expostas ao sol)
3 - sensibilidade ao sol e luz (lesões após a exposição de raios ultravioletas A e B)
4 - úlceras orais (recorrentes na boca e nariz)Critérios sistêmicos:
5 - artrite (inflamação de duas ou mais juntas periféricas, com dor, inchaço ou fluído)
6 - serosite (inflamação do revestimento do pulmão - pleura, e coração - pericárdio)
7 - alterações renais (presença de proteínas e sedimentos na urina)
8 - alterações neurológicas (anormalidades sem explicações - psicose ou depressão)

Critérios laboratoriais:
9 - anormalidades hematológicas (baixa contagem de células brancas - leucopenia, ou plaquetas - trombocitopenia, ou anemia causada por anticorpos contra células vermelhas - anemia hemolítica)
10 - anormalidades imunológicas - (células LE, ou anticorpos anti-DNA, ou anticorpos SM positivos, ou teste falso-positivo para sífilis)11 - fator antinúcleo positivo (FAN)

Causas

Imunidade
O sistema imune é regulado por uma combinação de células brancas do sangue e por algumas substâncias solúveis produzidas por elas. Existem basicamente 3 tipos destas células envolvidas no controle da resposta imune: linfócito B (produtores de anticorpos), linfócito T e o macrófago (reguladores da produção). Os linfócitos T, que estimulam a produção de anticorpos são chamados T auxiliadores, e os que reprimem a produção são chamados de T supressores.Normalmente, o sistema imune tolera seu próprio organismo, não produzindo excessivamente anticorpos contra seu corpo. O que diferencia o paciente de LES é a enorme quantidade de auto-anticorpos dirigida contra seus constituintes próprios. Alguns estudos mostram que nos pacientes de Lupus, ocorre uma diminuição da atuação do linfócito T supressor, ou mesmo uma intensa estimulação de produção de linfócito T auxiliadores.

Genética
Alguns cientistas acreditam em uma predisposição genética à doença, mas ainda não se conhece os genes causadores. Apenas 10% dos pacientes de LES tem parentes próximos que desenvolveram a doença. E as estatísticas mostram que apenas 5% de crianças de pais que tem Lupus desenvolvem a doença.

Hormonas
90% dos pacientes de Lupus são mulheres, entre 15 e 40 anos de idade. Por isso, o Lupus parece ter alguma associação com o estrógeno, um hormônio produzido pelas mulheres em seus anos reprodutivos.Experiências com camundongos revelaram que o estrógeno tem um efeito acelerador da doença. Fêmeas que tiveram seus ovários retirados antes da puberdade, e que receberam altas doses de hormônio masculino, tiveram a doença menos intensa. E aqueles que receberam altas doses de estrógeno, tiveram a doença exacerbada. Os estrógenos provavelmente aumentam a produção de anticorpo anti-DNA, dentre outras consequências.

Stress
O stress é comprovadamente um disparador do LES. Os cientistas pesquisam a possibilidade da adrenalina ou cortisona influenciarem o desenvolvimento da doença.

Luz Ultravioleta
Cerca de 30 a 40% dos pacientes de Lupus apresentam sensibilidade ao componente ultravioleta vindo da luz solar ou artificial, em função de:- alteração no DNA estimulando a produção anormal de anticorpos contra ele;- células da pele (queratinócitos) quando expostas à luz ultravioleta estimulam os linfócitos a produzirem anticorpos;- a luz UV dificulta a retirada dos imunocomplexos da circulação, que podem se depositar em alguns tecidos provocando inflamação.

Vírus
É possível que linfócitos B sejam infectados por vírus e provoquem a produção de anticorpos em pacientes susceptíveis.

Substâncias Químicas
Alguns remédios como procainamida (para distúrbios do coração), hidrazida (para tuberculose), difenilhidantoína (para epilepsia), hidralazina (para pressão alta), podem produzir um conjunto de sintomas semelhante ao LES em pacientes predispostos. Descobriu-se que os pacientes demoram mais para metabolizar essas drogas, bastando a suspensão do uso para a regressão dos sintomas.

Diagnóstico

1 - você teve dor ou inflamação das juntas por mais de 3 meses?
2 - você teve feridinhas em sua boca ou nariz por mais de 2 semanas?
3 - os seus dedos mudam de cor, ficando pálidos ou roxos, quando o tempo está frio ou quando estão em contato com água fria?
4 - alguma lesão de pele, vermelha, surgiu no seu rosto, sobre o nariz e bochechas, por mais de um mês?
5 - durante algum exame de sangue alguém lhe disse que a contagem de células vermelhas, brancas ou plaquetas estava baixa?
6 - sua pele fica muito vermelha e irritada, principalmente no rosto, depois que você toma sol? É pior em comparação com outras pessoas?
7 - você sentiu dificuldade ou dor para respirar durante alguns dias?
8 - você tem perdido muito cabelo ultimamente? Mais do que o normal?
9 - você já teve alguma convulsão?
10 - alguma vez você fez exame de urina onde foi constatada muita proteína?

Se 3 ou mais destas perguntas forem respondidas com um "sim" é recomendável um exame de sangue para testar a possibilidade de LES.

Exames Laboratoriais
Hemograma - é o exame onde são contadas as células vermelhas (hemácias ou eritrócitos) e brancas (leucócitos) do sangue, assim como as plaquetas, responsáveis pela sua coagulação. 40% dos pacientes de Lupus apresentam anemia (queda de células vermelhas), 15 a 20% apresentam leucopenia (queda de células brancas), e ainda 25 a 35% apresentam trombocitopenia (queda de plaquetas).
Teste de Coombs - exame sanguíneo que comprova que a anemia é resultante da produção de anticorpos contra as hemácias - anemia hemolítica.
Urina - os pacientes de Lupus podem apresentar aumento de células vermelhas (hematúria), aumento de estruturas cilíndricas (cilindrúria) e aumento de proteína (proteinúria) na urina.
FAN (fator anti-núcleo) - procura-se um anticorpo dirigido contra uma substância do núcleo da célula. No núcleo localizam-se algumas proteínas e também o DNA.Qualquer anticorpo contra o DNA ou contra as proteínas do núcleo determina um FAN positivo, o que ocorre em 95 a 100% dos casos.
Células LE - os neutrófilos são capazes de "engolir" núcleos de outras células atacadas pelo anticorpo anti-núcleo, formando as células LE positivas. Cerca de 80% dos pacientes de Lupus apresentam este teste positivo.
Anticorpo anti-DNA - existem dois tipos de DNA, nativo (dupla hélice) e mono-hélice, sendo que 60 a 80% dos pacientes com LES produzem anticorpos contra ambos. A presença do anticorpo anti-DNA sugere a possibilidade de nefrite - inflamação dos rins.
Anticorpo anti-SM - anticorpo dirigido contra uma proteína do núcleo no sangue, mas apenas 30% dos pacientes produzem esse anticorpo.
Dosagem de complemento - quando o anticorpo se liga ao antígeno forma-se uma estrutura chamada imunocomplexo. Quando este se deposita, atrai uma substância chamada complemento, responsável pela inflamação. A dosagem de complemento total (CH50) e das frações C3 e C4 são medidas, avaliando-se envolvimento renal e atividade da doença.

Fonte e mais imformações:
http://www.lupusonline.com.br/Curiosidades.asp

Doentes da Semana

Decidi partilhar algumas das minhas experiencias como Técnica de Radiologia. Pra já, escolhi os casos mais "engraçados" da semana para contar:

O Toxicodependente

- Deitado na mesa de T.C. prontinho para uma aquisição de Abdómen com contraste e.v.. Entra a minha colega na sala, calça umas luvas e prepara-se para injectar. Após colocar o garrote, observa o braço do doente procurando o local mais adequado, pelo que este lhe diz, ou melhor grita, "Só tenho uma veia nos braços mas NINGUÉM TOCA NESSA, ESSA É MINHA, eu preciso dela!!!" - solução... não se injecta o doente

O Presidiário

Desde o estágio em S.José que me habituei a ter que lidar com presidiários na nossa profissão. Na altura muitos deles iam realizar ortopantomografias devido a traumatismos por lutas dentro da prisão ou alguns apenas Rx Tórax de rotina ou diagnóstico. Estes doentes vêm geralmente acompanhados de 1 ou 2 guardas prisionais para evitar tentativas de fuga. Esta semana veio cá ao Hospital um presidiário que, para além das algemas nos pulsos trazia as pernas algemadas (mesmo à filme) e, ainda por cima, tive que estar bem próximo dele durante algum tempo para lhe retirar os 2 ou 3 fios que trazia ao pescoço, levando com aquele bafo de dentes mal tratados e aquele olhar psicopata (que nem todos têm, devo referir)...
PS: E tentem lá fazer 1 Rx Torax a alguém algemado....

A Peruca

Uma das doentes mais bonitinhas do dia era a "Mariana". Loira, olhos azuis, bem maquilhada e muito arranjadinha, com os seus 30 e poucos anos. Rx Coluna Cervical e Dorsal. Assim que fiz a radioscopia para confirmar a centragem da Cervical observo objectos radiopacos na zona da nuca. Procurei beincos, ganchos, elásticos, etc... estava limpa... até que lhe perguntei se tinha alguma coisa no cabelo... E ela sacou da peruca para eu procurar... (cabelo, qual cabelo...?)